O governo federal pretende, até o fim do ano, enviar ao Congresso Nacional uma proposta de reforma trabalhista, que mexerá diretamente com as vidas dos trabalhadores.
Entre as sugestões em estudo, a mais polêmica seria a de aumento da jornada semanal de 44 horas para até 60 horas. A ideia chegou a ser levantada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mas gerou polêmica, o que foi suficiente para um rápido desmentido da instituição.
Pelas propostas em discussão, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), as férias, a contribuição mensal para a Previdência Social, o 13º salário e a licença-maternidade, entre outros direitos, continuariam existindo, mas seriam flexibilizados. Patrões e sindicatos poderiam negociar, por exemplo, o parcelamento do abono de fim de ano e a redução do intervalo de almoço de uma hora para 30 minutos, mas com alguma contrapartida oferecida para os empregados.
— Não aceitamos os parâmetros desta reforma e vamos lutar contra quaisquer perdas de direitos trabalhistas — disse João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical.
Hoje, o número total de desempregados no Brasil é de quase 11,5 milhões de pessoas, o que representa 11,2% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Neste cenário, a CNI defende mudanças nas leis, para que o mercado de trabalho cresça e seja mais competitivo.
— Não queremos tirar direitos. Apenas consideramos que a modernização das relações de trabalho é um dos avanços fundamentais para a melhora do ambiente de negócios brasileiro — disse Alexandre Furlan, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da CNI.
Para o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, Germano Siqueira, a discussão precisa ser feita com cautela:
— Desestruturar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) pode ser perigoso. É fato que é preciso discutir a questão trabalhista no país, mas com a participação de todos os setores.
Terceirização causa polêmica
Apesar de a reforma não ter seus critérios totalmente estabelecidos, algumas propostas de mudanças já tramitam no Congresso Nacional. Um dos projetos trata das terceirizações. Aprovado na Câmara dos Deputados, o texto parou no Senado, e o governo federal quer que seja votado ainda neste ano.
Atualmente, uma súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST) prevê que as empresas só podem subcontratar serviços para o cumprimento das atividades-meio, não as atividades-fim. Ou seja, uma universidade particular pode terceirizar serviços de limpeza e segurança, mas não contratar professores sem vínculos empregatícios diretos com a instituição.
O projeto pretende mudar essas contratações, permitindo que terceirizados ocupem as atividades-fim, ideia combatida pelas centrais sindicais.
— A terceirização quer transformar as empresas em lugares onde ninguém é contratado formalmente, e isso minará as vagas dos profissionais especializados. Pode criar uma espécie de subcontratação de trabalhadores, que ganharão pouco e não terão benefícios — disse João Cayres, secretário-geral da CUT-SP.
A escrevente Simone Moreira, de 43 anos, vê completo retrocesso nos direitos conquistadosFoto: Guilherme Pinto / Agência O Globo
Acho que só vamos viver para trabalhar, diz a escrevente Simone Moreira
"Todas as propostas de reforma soam como um grande retrocesso. Propor mais horas de trabalho durante a semana para quem já trabalha oito horas por dia é completamente desumano. Se isso acontecer, só chegaremos em casa para dormir. Viveremos apenas para o trabalho. Sinceramente, vivemos um tempo de completo desgoverno e, se essa reforma for aprovada como está sendo pensada, não vejo nenhum horizonte positivo para os trabalhadores".